Como a comunidade escolar movimenta a percepção do conceito de trabalho nas crianças.

Sabemos que a escola sofre influências e também influencia sua comunidade. Sabemos também que esta relação “escola x sociedade” tem um poder grande para a maior parte dos brasileiros. Entendemos também que precisamos melhorar estas relações e com isso, movimentar atitudes que fortaleçam a boa pedagogia.

Por saber que a educação ultrapassa os muros da escola e que infinitos temas podem ser vinculados à educação, vamos falar, desta vez, da imagem de trabalho que estamos formando em nossos estudantes.

Antes, entretanto, gostaria de descrever alguns tipos de definições que existem sobre o trabalho, os quais tomarei como base para este artigo, visto que o tema é amplo e por isso, me basearei nestes referencias.

“Conjunto das atividades realizadas por alguém para alcançar um determinado fim ou propósito”. (https://www.dicio.com.br/trabalho/)

 

“No século XII, a palavra significava precisamente tormento, sofrimento. No século XIII, ela ganhou uma nova acepção, muito próxima: dispositivo para imobilizar os grandes animais. Então, seria uma espécie de canga. Inclusive, a palavra canga é usada como metáfora de trabalho”. (Sônia Viegas, Trabalho e vida)

 

 

Nestas definições podemos observar que visões diferentes sobre o trabalho. Este é vivido por nós das duas formas. Então, a relação com o trabalho é complexa e por isso, devemos refletir sobre como nossas crianças estão recebendo este conceito na sua formação do ser.

 

As escolas recebem parâmetros, grades e afins que devem ser cumpridos por ela. Os professores preparam suas aulas a fim de cumprir esta demanda. O aluno aprende e faz as atividades propostas pelo professor na escola e leva atividades escolares para casa, também para suprir a agenda de conteúdos que estão previstos para a fase escolar que se encontra. Em casa, os pais ajudam seus filhos com estas tarefas e conteúdo.

 

Somando todas estas atividades, temos, em média, seis a sete horas por dia de estudo por aluno.

 

Isto acontece em um momento em que as escolas atendem demandas que não são ligadas diretamente a conteúdos programáticos e sim, às necessidades de seus alunos em suas relações.

 

No momento em que os pais precisam trabalhar fora e quando chegam em casa, mesmo não sendo capacitados para a função de ensinar conteúdo, precisam ajudar seus filhos.

 

Os alunos diante de “TANTO”, ficam submergidos entre a escola que reclama das tarefas de casa malfeitas ou do quanto este aluno é mal educado, e os pais, que exaustos não conseguem ser eficientes na ajuda da tarefa escolar e nem de educar seus filhos ou simplesmente, de ter um momento de lazer.

 

Neste momento, acredito que o aluno enxerga seu trabalho de estudante como uma canga, que o deixa preso e infeliz.

 

”…é um trabalho anti-vida. É um trabalho que, quando muito, pode ser dito ocupação, mas não pode ser dito elaboração, ou seja, não pode ser dito construção do ser da pessoa. A construção do ser da pessoa, por mais incômoda, por mais angustiante que seja, produz um intensíssimo prazer”. (Sônia Viegas, Trabalho e vida)

 

Neste cenário, onde toda a comunidade escolar se vê exausta, ineficiente e mal compreendido, que nossas crianças estão iniciando sua relação trabalho x produção ou estudo x produção de conhecimento.

 

É importante observarmos que não são as escolas, ou professores, ou os pais destes alunos, os culpados por está situação. A questão não remete reflexão somente de uma parte desta comunidade, mas sim de toda a sociedade que a cada momento também se vê sufocada diante de muito trabalho e cada vez menos ócio criativo.

 

Para que o trabalho seja visto como uma forma de alcançar objetivos que são importantes para quem o produziu, precisamos melhorar em nós estes conceitos.

 

Precisamos ter consciência do benefício dele para toda a sociedade e para o indivíduo. Precisamos nos conscientizar que aquele esforço será para um benefício real, e não para um fim sem sentido.

 

“…acontece com ele um fenômeno no nível do simbólico muito análogo ao que acontece no nível da vida natural: quanto mais uma planta, por exemplo, desabrocha, quanto mais mudas você tira dela, mais bonita ela fica. Quer dizer, quanto mais o homem coloca de si no mundo, mais conteúdo interior ele vai adquirindo”. (Sônia Viegas, Trabalho e vida)

 

 

É importante personalizar o trabalho, é importante também atender demandas específicas de nossos alunos, familiares, professores e escolas. O acolhimento, a escuta e o olhar precisa ser apurado para que este contexto que vivemos possa ser alterado de uma forma harmônica e eficiente. Para que não se crie lados ou polos e sim um ambiente de transformação que valorize a trabalho de cada um.

 

 

REFERÊNCIA

 

VIEGAS Sônia, Trabalho e Vida, Conferência pronunciada aos profissionais do Centro de Reabilitação Profissional do INSS. Belo Horizonte,12 de julho de 1989. Revisada por Paulo R. A. Pacheco.

 

DICIONÁRIO, https://www.dicio.com.br/trabalho/

Relações: como movimentam a formação do SER nas crianças?

Antes de falar sobre este tema, vamos entender como se forma a personalidade de uma pessoa. Gosto do ponto de vista do criador do Psicodrama, Jacob Moreno. Para ele, as pessoas são como átomos, ou seja, são formadas por suas relações e interações.

 

“… a família, berço genético-psicológico-social inicial ou sociometria primária da criança, é de capital importância na formação de sua personalidade. A resultante dos primeiros vínculos estabelecidos é internalizada segundo disposições individuais, de forma a gerar características pessoais e únicas”. (Fonseca,1980, p.112)

 

A observação da relevância das primeiras interações sociais da criança é que me levou a escrever sobre isso, visto que o educador, os pais, a escola e a família estão presentes neste momento de muita movimentação para a formação do SER. Pensar sobre nossas ações de uma forma responsável e cuidadosa é de suma importância.

 

O psicopedagogo que recebe a demanda de uma família deve estar preparado para intervir de forma respeitosa na cultura da mesma. Toda mudança proposta deve ser pensada e avaliada junto ao grupo familiar; e toda movimentação causada por ele deve ter sentido para os integrantes. As propostas também devem ser ajustadas para que estejam em uma proporção que a estrutura do grupo familiar possa sustentar. Neste caso, toda a movimentação proposta pelo psicopedagogo deve ser avaliada e ajustada a fim de que se alcancem resultados. Para que o psicopedagogo possa ter conhecimentos tão específicos, sugiro conhecer as ferramentas utilizadas pelo o método do Psicodrama.

 

A família, ao se perceber parte tão importante do processo de formação das suas crianças, começa a avaliar suas ações e interações e com isso, passa a se relacionar com suas crianças de uma forma mais saudável, melhorando efetivamente seus convites relacionais.

 

Os convites relacionas são os veículos de interação com o outro, como: agressividade, desprezo, afetividade, carinho, amor, entre outras. Quando notamos a importância de melhorar nossas interações e nos movimentamos nesta direção, os resultados são mais conscientes e responsáveis. Esta interação mais saudável será levada ao SER da criança pelo o resto da vida.

 

Segundo a escritora e psicóloga Rosa Cukier, a maior parte dos casos difíceis em adultos de seu consultório vem de situações vividas na infância. O trabalho dos psicopedagogos é muitas vezes evitar que a proporção de uma ação ou relação ou deficiência tome proporções insustentáveis no futuro. Promovemos a consciência da importância da qualidade das relações no presente para evitar sofrimento não só neste momento da vida da criança como também na qualidade da vida adulta.

 

“As aprendizagens e as decisões que as crianças tomam ao longo da vida, principalmente aquelas frente a situações traumáticas, estressantes e desconfirmadoras, limitam as percepções das escolhas na vida do adulta”. (CUKIER,1998, p.18)

 

O olhar atento às nossas crianças, o acolhimento adequado aos familiares, o acompanhamento do desenvolvimento escolar são ações psicopedagógicas frutos da pesquisa e da experiência de cada profissional. Por isso, é muito importante encontrar um profissional qualificado e cuidadoso.

Jogos Teatrais, Criatividade e Desenvolvimento Humano.

Criatividade é a saída para várias situações. Uma pessoa criativa tem opções ao enxergar formas e estratégias para resolver uma situação. O criativo consegue reagir melhor às situações. Com maior clareza e domínio consegue se utilizar dos recursos a sua volta para intervir na situação de forma favorável a ele. Por isso a criatividade tem sido um talento importante para a humanidade em geral.

 

A criatividade é um talento que pode ser aperfeiçoado. “Compartilhar uma atividade lúdica e criativa baseada na experimentação e na compreensão é um estímulo para a aprendizagem”. O teatro pode ser um grande aliado para o desenvolvimento humano porque ele proporciona estímulos e atividades onde a pessoa cria meios para contar sua história. E de acordo com a idade estas atividades podem ser menos ou mais complexas.

 

Os jogos teatrais estão sendo utilizados como um recurso para autoconhecimento e também para trabalhar questões sociais (saúde, higiene, uso de drogas, entre outros). Boa parte das crianças gostam de participar de apresentações de teatro. E gostar do que se está fazendo facilita aprender sobre o assunto. “As pessoas aprendem apenas quando estão abertas ao inesperado, quando procuram dentro de si mesmas, quando lhe é permitido sonhar, quando são levadas por uma espécie de sede interior”.

 

Com jogos teatrais para estimular a capacidade de criação, o professor tem um leque enorme de possíveis propostas. Não tem limites nem de temas ou recursos específicos. Quando o objetivo é criar, um pedaço de papel, ou um camarim cheio de fantasias ou simplesmente um único aluno, tudo é possível de se fazer. Por isso o teatro é tão eficiente no incentivo da criatividade e no desenvolvimento humano. O trabalho com teatro neste sentindo não tem amplitudes inerentes aos recursos financeiros.

 

Então vista o seu personagem com a imaginação, vá em frente com a magia do teatro, e esteja certo que caminhos reais vão surgir. No próximo artigo vou numerar quantos benefícios reais são possíveis através dos jogos teatrais.

 

Raquel Leonor Resende

REFERÊNCIA

MELLANDER, Klas. O Poder da Aprendizagem. São Paulo: Editora Cultrix. 2006

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: arte/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.