Duvida

O erro e o acerto na educação

Para iniciar vamos pensar no conceito de “certo” e “errado” que utilizamos hoje. No https://www.dicio.com.br CERTO quer dizer, “Exato, sem erros; que exprime a verdade: resultado certo.” E ERRADO quer dizer: “Em que há erro; que está incorreto: trabalho errado”.

Uma palavra é exatamente o oposto da outra. Ou seja, o que está correto não está errado, e o que está errado não está certo. Partimos deste pressuposto para avaliar as mais diversas atitudes e conceitos. Isso porque existe toda uma construção filosófica, que começou a ser construída antes do período Socrático que foram sofrendo influências e se reestruturando até que chegamos a este conceito polar do CERTO X ERRADO.

…Aristóteles dá uma definição de verdade, na expressão: “Dizer que aquilo é, não é, ou que aquilo que não é, é falso; enquanto dizer que aquilo que é, é, ou que aquilo não é, é o verdadeiro”(Metafisica IV,1011b, p.27-29) e Tarski adapta esta sentença aristotélica à linguagem moderna com o seguinte expressão: “A verdade de uma oração consiste em seu acordo (ou correspondência) com a realidade”(TARSKI,1972,p.12).’ (SERZEDELLO, 2019, p.45)

A busca da filosofia e da ciência pela verdade, pelo certo, provavelmente erá tema de discussão para muitos outros séculos. E a relevância desta discussão não está sendo questionada neste artigo.

Não podemos é permitir que estes conceitos tão matemáticos e de valor enquadrado seja o critério mais importante em nossas atitudes educativas

Observem este desenho infantil:

O que você vê? O que uma criança de 7 anos vê? O que uma criança de 4 anos vê? O que uma criança de 2 anos vê? O que um idoso vê?

Dizer que tem uma letra “M” desenhada, ou que tem montanha s no desenho ou que a letra “m” é representada através de montanhas, são respostas correspondentes ao desenho. Cada uma destas idades pode manifestar respostas diferentes e corretas para esta mesma pergunta. Por esta razão, nossas ações educativas não devem ser baseadas somente nos conceitos de “CERTO E ERRADO”. Então em que devemos basear nossas ações educativas? 

 

 

Então, em que devemos basear nossas ações educativas?

A ação educativa deve estar voltada para a fase do desenvolvimento da pessoa. É de rigorosa necessidade que o educador saiba em que fase do desenvolvimento está seu aluno, para que a ação educativa faça sentido e o aluno aprenda.

Podemos utilizar tabelas que demonstram relação entre a idade e o desenvolvimento humano, mas devemos estar atentos ainda mais as particularidades de cada aluno. Para que o conteúdo a ser trabalhado esteja contextualizado e relacionado a sua vida. Os métodos que relacionam a experiências do aluno a seu processo educativo estão muito bem representados na visão construtivista de Paulo Freire e também pela Pedagogia Waldorf.

Hoje gostaria de apresentar a quem não conhece uma forma diferente e criativa de ensinar, utilizando ferramentais do Psicodrama. 

Por meio deste método o professor vai utilizar de recursos lúdicos para acessar no seu aluno experiências particulares e posteriormente através de ato espontâneo o aluno poderá assimilar e acomodar conteúdos. O papel do professor neste caso será dar oportunidades para que o aluno se torne protagonista da sua ação educativa.

O pressuposto básico em que acreditamos é que a espontaneidade _ criatividade é o fator que permeia a regulação de todo o desenvolvimento, quer seja ele voltado para as construções lógicas, quer seja ele voltado para as relações afetivas e sociais”. (WECHSLER,1999, p.25).

Visto isto o que acontecerá de mais importante na educação não estará enquadrada entre o CERTO X ERRADO mas sim na AÇÃO. O método valoriza o educador mediador, onde o professor funciona como um trampolim para dar ao aluno somente o impulso necessário para que o próprio se desenvolva.

A aprendizagem é um processo cuja matriz é vincular e lúdica e sua raiz corporal; seu desdobramento criativo põe-se em jogo através da articulação inteligente-desejo e do equilíbrio assimilação-acomodação. No humano a aprendizagem funciona como equivalente funcional do instinto. Para dar conta das fraturas no aprender, necessitamos atender aos processos (à dinâmica, ao movimento, às tendências) e não aos resultados ou rendimentos (sejam escolares ou psicométricos). (FERNANDES, 1990, p.48)

O objetivo é nunca apagar no aluno a sua criatividade. Assim como nossa sociedade queimou muitos filósofos porque contrariavam o “CERTO” da época. Precisamos conhecer os mais diversos tipos de ferramentas e métodos, para proporcionar aos nossos alunos possibilidades plurais de encontro com seu processo educativo. Não vamos colocar nossos métodos educacionais na balança do (CERTO x ERRADO), vamos conhecê-los e usar o que for importante para promover a educação.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SERZEDELLO, Marcos. Ciência e Verdade. A verdade cientifica e suas implicações para o ensino de física e ciências. Curitiba: Appris, 2019.

WECHSLER,Mariângela Pinto da Fonseca Wechsler. Psicodrama e construtivismo uma leitura psicopedagógica. São Paulo: FAPESP,1999. p.25)

FERNANDES, Alicia. A inteligência aprisionada, abordagem psicopedagógica da criança e sua família. Porto Alegre: Artes Medicas, 1990.

Como a comunidade escolar movimenta a percepção do conceito de trabalho nas crianças.

Sabemos que a escola sofre influências e também influencia sua comunidade. Sabemos também que esta relação “escola x sociedade” tem um poder grande para a maior parte dos brasileiros. Entendemos também que precisamos melhorar estas relações e com isso, movimentar atitudes que fortaleçam a boa pedagogia.

Por saber que a educação ultrapassa os muros da escola e que infinitos temas podem ser vinculados à educação, vamos falar, desta vez, da imagem de trabalho que estamos formando em nossos estudantes.

Antes, entretanto, gostaria de descrever alguns tipos de definições que existem sobre o trabalho, os quais tomarei como base para este artigo, visto que o tema é amplo e por isso, me basearei nestes referencias.

“Conjunto das atividades realizadas por alguém para alcançar um determinado fim ou propósito”. (https://www.dicio.com.br/trabalho/)

 

“No século XII, a palavra significava precisamente tormento, sofrimento. No século XIII, ela ganhou uma nova acepção, muito próxima: dispositivo para imobilizar os grandes animais. Então, seria uma espécie de canga. Inclusive, a palavra canga é usada como metáfora de trabalho”. (Sônia Viegas, Trabalho e vida)

 

 

Nestas definições podemos observar que visões diferentes sobre o trabalho. Este é vivido por nós das duas formas. Então, a relação com o trabalho é complexa e por isso, devemos refletir sobre como nossas crianças estão recebendo este conceito na sua formação do ser.

 

As escolas recebem parâmetros, grades e afins que devem ser cumpridos por ela. Os professores preparam suas aulas a fim de cumprir esta demanda. O aluno aprende e faz as atividades propostas pelo professor na escola e leva atividades escolares para casa, também para suprir a agenda de conteúdos que estão previstos para a fase escolar que se encontra. Em casa, os pais ajudam seus filhos com estas tarefas e conteúdo.

 

Somando todas estas atividades, temos, em média, seis a sete horas por dia de estudo por aluno.

 

Isto acontece em um momento em que as escolas atendem demandas que não são ligadas diretamente a conteúdos programáticos e sim, às necessidades de seus alunos em suas relações.

 

No momento em que os pais precisam trabalhar fora e quando chegam em casa, mesmo não sendo capacitados para a função de ensinar conteúdo, precisam ajudar seus filhos.

 

Os alunos diante de “TANTO”, ficam submergidos entre a escola que reclama das tarefas de casa malfeitas ou do quanto este aluno é mal educado, e os pais, que exaustos não conseguem ser eficientes na ajuda da tarefa escolar e nem de educar seus filhos ou simplesmente, de ter um momento de lazer.

 

Neste momento, acredito que o aluno enxerga seu trabalho de estudante como uma canga, que o deixa preso e infeliz.

 

”…é um trabalho anti-vida. É um trabalho que, quando muito, pode ser dito ocupação, mas não pode ser dito elaboração, ou seja, não pode ser dito construção do ser da pessoa. A construção do ser da pessoa, por mais incômoda, por mais angustiante que seja, produz um intensíssimo prazer”. (Sônia Viegas, Trabalho e vida)

 

Neste cenário, onde toda a comunidade escolar se vê exausta, ineficiente e mal compreendido, que nossas crianças estão iniciando sua relação trabalho x produção ou estudo x produção de conhecimento.

 

É importante observarmos que não são as escolas, ou professores, ou os pais destes alunos, os culpados por está situação. A questão não remete reflexão somente de uma parte desta comunidade, mas sim de toda a sociedade que a cada momento também se vê sufocada diante de muito trabalho e cada vez menos ócio criativo.

 

Para que o trabalho seja visto como uma forma de alcançar objetivos que são importantes para quem o produziu, precisamos melhorar em nós estes conceitos.

 

Precisamos ter consciência do benefício dele para toda a sociedade e para o indivíduo. Precisamos nos conscientizar que aquele esforço será para um benefício real, e não para um fim sem sentido.

 

“…acontece com ele um fenômeno no nível do simbólico muito análogo ao que acontece no nível da vida natural: quanto mais uma planta, por exemplo, desabrocha, quanto mais mudas você tira dela, mais bonita ela fica. Quer dizer, quanto mais o homem coloca de si no mundo, mais conteúdo interior ele vai adquirindo”. (Sônia Viegas, Trabalho e vida)

 

 

É importante personalizar o trabalho, é importante também atender demandas específicas de nossos alunos, familiares, professores e escolas. O acolhimento, a escuta e o olhar precisa ser apurado para que este contexto que vivemos possa ser alterado de uma forma harmônica e eficiente. Para que não se crie lados ou polos e sim um ambiente de transformação que valorize a trabalho de cada um.

 

 

REFERÊNCIA

 

VIEGAS Sônia, Trabalho e Vida, Conferência pronunciada aos profissionais do Centro de Reabilitação Profissional do INSS. Belo Horizonte,12 de julho de 1989. Revisada por Paulo R. A. Pacheco.

 

DICIONÁRIO, https://www.dicio.com.br/trabalho/

O lúdico e o desenvolvimento humano

O ser humano se difere dos demais animais pela capacidade de criar novas estratégias, alterando o meio para seu benefício. Esta capacidade é aprimorada nos primeiros anos de vida do ser humano e tende normalmente a ficar mais hábeis com o decorrer da vida. Isto se dá através das interações homem/homem, homem/sociedade, homem/ambiente, homem/brincadeiras, homem/máquina entre outras. De acordo com Mellander,“… a qualidade do conhecimento é determinada pelas muitas experiências e associações que ao todo compões tal conhecimento. E o ensino e o estudo são tentativas de recriar, de uma forma ou outra, o processo de aprendizado que originalmente resultam no conhecimento em questão.” (Mellander, 2006. p.53).

 

A brincadeira é um dos primeiros recursos utilizados pelo homem para aprender. A mãe diante de seu bebê, bate palmas, faz sons com a boca, tudo isso para ensiná-lo a interagir. E o estímulo ainda fica maior quando o bebê consegue bater palmas e a mãe manifesta sua alegria por isso.

 

Os recursos lúdicos são eficientes justamente porque fazem parte das primeiras formas de se conectar com o mundo e as pessoas. As crianças se sentem confortáveis em atividades lúdicas. E usando os recursos lúdicos alcançamos uma aprendizagem mais natural e eficiente.

 

“Aparentemente, aprendemos o tempo todo – espontaneamente e sem fazer esforço – coisa que parecem praticamente impossíveis de se aprender numa sala de aula ou livro didático. Isso significa que aprendemos mais facilmente sem professor do que quando somos ensinados? Por mais estranho que pareça, é isso o que realmente acontece. Por quê? Porque nossa ignorância nos induz a complicar as coisas para nós mesmos. Assim, diminuímos em vez de aumentar a nossa capacidade de aprender em um ambiente formal. Se conseguirmos ficar mais conscientes de como aprendemos espontaneamente, poderemos aumentar nossa capacidade de aprender conscientemente e de acordo com um plano em uma situação de aprendizado formal”. (Mellander, 2006. P. 22).

 

Com os recursos lúdicos e artísticos, o aluno pode encontrar esta consciência de autoaprendizagem, se tornando um ser ativo no seu processo cognitivo. Facilitando o processo de aprendizagem formal em todas suas etapas.

 

REFERÊNCIA BIOGRAFICA

MELLANDER, Klas. O Poder da Aprendizagem. São Paulo: Editora Cultrix. 2006